Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. (Rm 8.28)
Talvez pelo crescimento do evangelho da auto-ajuda, o versículo 28 do oitavo capítulo de Romanos entrou para a lista daqueles versículos que são chavões evangélicos para aconselhar e responder a outras pessoas. Basta alguém desabafar sobre uma situação difícil que está vivendo, para soltarmos “Não esquenta não ‘mermão’, isso é benção de Deus, lembra que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus!”. No entanto, há duas observações que merecem ser feitas neste caso. Primeiro: estes chavões só funcionam quando a situação ruim é com outros, quando é conosco, ficamos desesperados diante de Deus e ai de quem aparecer com um chavão para responder nossa angústia. Segundo: o versículo escrito pelo apóstolo Paulo tem uma profundidade muito maior do que pensamos.
Arrisco-me a dizer que a versão de Almeida (mesmo a Fiel) traduziu de maneira ruim ou controversa o texto. A versão Almeida Revisada Imprensa Bíblica diz “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Todavia, chamo a atenção para a tradução da NVI, que diz “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”. Aqui, a ideia começa a mudar, uma vez que não são as coisas que por si só acontecem e cooperam para o bem dos que amam a Deus, mas sim o próprio Deus, que aproveita as circunstâncias para o bem e para que o seu propósito seja cumprido na vida daqueles que o amam.
Ainda há outra questão a ser tratada e talvez a mais importante. O que significa esse ‘bem’ e qual é o ‘propósito’ declarado no texto? A resposta se encontra no versículo seguinte, o verso 29: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Em todas as circunstâncias da vida, Deus age para que sejamos transformados e assim, sermos a cada dia mais parecidos com Cristo.
Compreender o texto traz novo significado ao nosso modo de viver. Não é mais questão de olhar para Deus como um ser manipulador de circunstancias, que beneficia somente aos seus filhos, como um pai que só dá presentes ao filho que lhe obedece e deixa os outros chupando dedo. Do contrário, as dádivas de Deus se derramam sobre todos, independentemente de méritos, pois tudo quanto recebemos, recebemos pela graça. Além do mais, referente aos nossos desejos e ansiedades, temos duas promessas: a primeira está em Efésios 1:3, que diz que Deus já nos abençoou com TODAS as bênçãos. Em Mateus 6, do versículo 31 Jesus nos tranquiliza dizendo que o que precisarmos para viver aqui, Deus irá providenciar. Note que Ele não diz que tudo o que quisermos ele irá providenciar, mas tudo o que precisarmos.
Portanto, quando dizemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, a questão é muito mais interna ou ontológica como se diz na Filosofia, do que externa ou circunstancial. Quando oramos a Deus, por exemplo, diante de uma situação de desemprego, o Pai está muito mais empenhado em mudar a nossa maneira de pensar sobre o trabalho, mostrando-nos os erros que cometemos no último emprego e como podemos ser melhores e mais parecidos com Cristo no próximo, do que em estralar os dedos e abrir uma oportunidade em uma multinacional. Outro exemplo: quando pedimos a Deus “muda o meu casamento”, Ele está muito mais interessado em nos mudar e em nos fazer mais parecidos com Cristo do que em atirar um ‘pó de perlimpimpim no nosso cônjuge e fazer com que ele mude. Não é que Deus não possa mudar uma circunstancia adversa na nossa vida, mas sim que quer nos ensinar que a oração tem muito mais poder quando muda mais o orador do que a circunstância pela qual o orador suplica.
Se você ama a Deus de todo o seu coração, alma e entendimento e percebe que as circunstâncias não cooperam para o seu bem, fique tranquilo e abra o coração para Deus faça o mais importante: cumpra em você o propósito eterno, que é de te fazer mais parecido com Cristo. É apenas após compreendermos a profundidade ontológica do texto, que podemos ler, crer e difundir que de fato em todas as coisas Deus age para o bem daqueles que o amam e que são chamados segundo o seu propósito!
Via Luciano Bruno
Jovens Discípulos 